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MEMÓRIAS DE EX-ALUNO

Muitos dos que aqui hoje se encontram viveram a deliciosa experiência de estudar no Imaculada por mais de uma década... Em nosso caso, os anos 70 e início dos 80.

Um país então oprimido pela ditadura militar, liberdades contidas que nós, crianças, nem sequer sonhávamos existir.

Nesta escola, uma redoma de proteção, travávamos nossos primeiros embates sociais. Descobríamos os prazeres do aprendizado, da convivência, da competição saudável. Críamos num mundo “pink and blue” onde promessas jamais seriam quebradas, sonhos sempre realizados e para o futuro, esperávamos um oásis de fartura, fraternidade, bem estar e satisfação coletiva... Em tudo, víamos o bem e, em todos, o desejo de fazer o bem.

Naquela época, os grupos seguiam juntos, ano após ano, o que gerava uma idéia singular de formarmos aqui uma segunda família. Nasceram assim amizades duradouras, diria eu, as melhores, pois verdadeiramente desinteressadas. Vários encontraram aqui seus grandes amores, outros tantos voltaram aqui para trabalhar, para trazer seus filhos e netos e dar prosseguimento ao ciclo ininterrupto da vida.

Nossos professores e as freiras, estas em grande número, nos cativavam com seu afeto e carinhosa disciplina. Imaculados eram seus hábitos, assim como imaculado era o chão que pisávamos, o jardim que apreciávamos, verde e amarelo, quase um patrimônio municipal, tão inabilmente sacrificado. Imaculados corredores meticulosamente adornados por belos vasos de avenca. Imaculado o silêncio da biblioteca e imaculada também a capela, sempre florida. O piso encerado refletia o capricho das incansáveis serventes sob o comando da severa Dolores. Imaculados eram ainda a cozinha e os banheiros, sem falar nas salas de aula, impecáveis.

Impossível não lembrar das primeiras professoras, tão jovens, mas tão seguras e firmes na execução de suas tarefas – Tia Tê e Madre Maria José Guimarães desdobravam-se no pré-primário. Esta Madre, figura inesquecível, dirigia heroicamente a velha perua azul e branca abarrotada de crianças que disputavam a tapas um lugar no imenso veículo, quando ela anunciava uma súbita saída na hora do recreio. D. Célia, d. Maria Eugênia, d. Cidinha e d. Papá, d. Ferraz e Suely, d. Marlene e Madre Sebastiana, que instituiu a obrigatoriedade de trazermos pentes e perfume para usarmos no retorno do recreio...

Sucederam-se muitos outros que se revezavam, entrando e saindo de nossas salas, da 5ª série em diante. Quanta mudança! Aulas de inglês com Marta Finamore, a vaidosa d. Neves que, do alto de seus saltos, surpreendia-nos com seus testes ‘relâmpago’, “história é vida!” Desenho geométrico com a charmosa Rosa Schettini, toda a simpatia de Suely, suavizando a Matemática, a gentil d. Neuza, d. Dorinha e o enorme Atlas cartográfico, que mal cabia em nossas pastas!

A saudosa Regina Salomão, a séria mocinha Ângela Ignez, instigando-nos a pesquisar os ‘quês e porquês’ do universo Kafkaniano, Madre Maria José Homem da Costa e suas aulas de religião e redação, muitas vezes ao som de Roberto Carlos(!) na vitrolinha portátil. D. Maria da Glória Fajardo, e suas aulas de artes... a clareza do português de Maria das Graças Machado, Marília França com sua admirável objetividade, tão própria à ciência.

A dupla imbatível da história e geografia formada por Maria Inês Schettini e Heloísa ‘Pretinha’, toda a vitalidade de Aída, o paciente professor Waldir Policiano, a nem sempre paciente Madre holandesa Catarina Timmerrrrrmans e suas (pouco) práticas aulas de laboratório, para não falar da tal físico-química, o incomparável Professor Luís de Melo Sobrinho, que já nasceu com nome de “Acadêmico”, tão acima de nossas expectativas! O “Imortal” Gilberto, grande exemplo de retidão, cujas lições sobre conduta moral certamente marcariam muito mais que as práticas esportivas... e D Helena Horta, simplesmente única.

Acima de todos, soberana absoluta, jamais destronada, Madre Alice. Memória ímpar, olhinhos de lince, brilhantes e inquietos, a vasculhar rapidamente todo o ambiente a sua volta. Capricho incomparável, simbolizará eternamente a imagem da ética, da ordem e da delicadeza em nossa lembrança do Imaculada. Aliás, o que seria nosso ‘Imaculada’ sem sua presença?

E assim foram os ‘Anos Dourados’ de nossa infância e adolescência!

Apesar de vários mestres já não se encontrarem mais entre nós, certamente sabem do inestimável legado que nos deixaram, partilhando seus ensinamentos e vivências. Visitam-nos, a maioria deles, em nossos melhores sonhos, e alguns outros, felizmente poucos, ainda assombram nossos pesadelos.

Dentro destes muros, desfrutamos felizes de um universo absolutamente novo e promissor, confiantes nos ensinamentos que perduram e norteiam nossas vidas, embora o mundo não seja definitivamente “pink and blue”, mas sim “black and white”.

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